domingo, 20 de março de 2016

Retrovisor - O Teatro Mágico



Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário.
Letras, lados, lestes.
O relógio de pulso pula de uma mão para outra,
E na verdade nada muda.

O menino que me pediu R$0,10
É um homem de idade no meu retrovisor.
A menina debruçando favores toda suja,
É mãe de filhos que não conhece,
Vende-os por açúcar, prendas de quermesse.

A placa do carro da frente
Se inverte quando passo por ele.
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso,
E quando o faço nem noto.

Outras flores e carros surgem no meu retrovisor.
Retrovisor é passado, é de vez em quando do meu lado,
Nunca é na frente.
É o segundo mais tarde, próximo, seguinte.
É o que passou e muitas vezes ninguém viu.

Retrovisor nos mostra o que ficou,
O que partiu, o que agora só ficou no pensamento.
Retrovisor é mesmice em trânsito lento.
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas.
Mostra as ruas que escolhi,
Calçadas e avenidas.
Deixa explícito que se for pra frente
Coisas ficarão pra trás.
A gente só nunca sabe que coisas são essas.

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